Wednesday, November 15, 2006



8. Crónica

Toco à campainha e ouço o som da porta a abrir-se, nunca me respondes porque ninguem pode saber que é para ti, que eu sou para ti. Subo no elevador e tento nunca entrar num que já leve gente. Quando chego à porta da tua casa espero que ninguem desça as escadas. Ninguem nos pode ver. Ninguem nos espiará. Tu deves olhar sempre pela pequena lente na porta, mas não tenho a certeza. Às vezes para te testar coloco o dedo. É infantil, bem sei, mas tem piada brincar com o teu pânico. Quando abres a porta pareces um fantasma. Não te vejo, vejo os dedos a segurar a porta com receio de seres levado por uma estranha corrente. Mas tu estás sempre atrás da porta. Mal te vejo agarro-me ao teu pescoço e cobro-te com beijos em bicos de pés. Ficas envergonhado e tentas que eu “descole” de ti, mas já é tarde, já te desejo há horas. Às vezes torço-me toda, ainda com a porta aberta na esperança que alguem nos veja, que uma vizinha nos apanhe e que me considere tua namorada ou esposa ou até irmã. Era bom às vezes pertencer-te. Tu não queres isso e a maneira de me castigares é ignorares que eu estou ali. Dirijo-me a outra divisão e sento-me no sofá, ligo a televisão e espero que te sentes perto. Basta um metro, dois. Quando finalmente te sentas eu provoco-te com o olhar. Começo por olhar para ti e comunicar-te que quero ir lá para dentro, para qualquer sítio lá dentro. Levantas-te para ir buscar água. Por Deus, eu não quero água. Então ofereces-me um café. Tanto faz, se beber alguma coisa não vou saber o que é. Quero imenso ir lá dentro. Sentaste e levantas-te para pôr música. Sentaste de novo e desta vez não te vou perder e salto para cima de ti de pernas abertas e fico ali agarrada ao teu pescoço como se fosse um pilar que me salvasse de uma gigantesca corrente de água. Fico ali ancorada até tu sossegares. Depois deito-me ao comprido no teu colo. Acalmo-me, acalmo-te, sem perder de vista o meu objectivo. Vem-me à memória o teu cheiro e o meu à mistura. Levanto-me e pego-te pela mão. Levo-te e direciono-me, ainda que mal, na tua casa. O quarto é arejado e pouco quente. Começo a tirar a roupa e fico nua ao frio. Nada me excita mais que um ligeiro arrepio que venha de uma corrente de ar ou uma vontade de mijar adiada. Tu deitas-te e és muito aprumado a arrumar as calças. Dobra-as que eu vejo-te. As tuas nádegas, as tuas pernas, tudo desconhecido ou de novo ali para eu conhecer. Enfio-me na cama e procuro-te para me aquecer. Não preciso de mais nada, imagino logo que me enfias tudo de uma só vez e que com a mão me massajas o clitóris. Isso ainda não aconteceu e já aí estou. Viro-me de frente para ti e permito-te que tires o soutien como tu gostas. Deixo-te que passes os dedos pelo meio dos meus seios esfregando um pouco naquela gordura natural. Sabe bem. Eu beijo-te e esforço-me por te excitar com a língua. Tu chamas-me criança, infantil, adolescente, só porque brinco como se estivesse de novo no liceu, quando não esperava muito mais do que me vir através de um beijo valente. A minha vontade vence e tu, que agora me cobres de beijos, encontras a melhor posição para a penetração. Aí, isso. Tu sabes e eu confio. Não sinto nada do meu corpo, não sinto nada de nada, o que é bom. Quero ir mais longe e abandono-me ali, ao momento. Já vim algumas vezes e agarro-me a ti com vontade, quero recompensar-te, quero dar-te algo próximo do que me deste. Pedes-me para ter cuidado, mas eu não sei ter cuidado ou educação. Nem sei quem és. Mordo-o, como-o, enfio-o até onde me apetece. Às vezes vai ao limite do vómito. Tanto faz, desde que te dê prazer e que me abras a porta no dia a seguir. Um dia e outro dia, quero recomeçar. Já vestida, aos pés da cama, quero voltar lá para dentro. Confesso-te que acho que o transito parou lá fora e que de certeza que não estamos a perder nada. Mais vale ficar. Leva-me ao colo (só aconteceu uma vez) até à cozinha e oferece-me qualquer coisa para comer. Achas sempre que vou precisar de energia que posso ficar fraca por ter estado tanto tempo contigo. Eu subo os armários e sorvo o café amargo com pedaços de pão molhados. Está ali uma gaiola, nunca lhe mexemos. Vai ficar vazia.

Salto de um armário e fujo porta fora. Não gosto do cheiro a café velho e tenho medo de ti, não confio em nada que me dizes. Ou melhor, não confio no teu silêncio. Não sei o que queres de mim, porque me aceitas na tua casa, porque tens um sabonete seco e porque nunca tens nada no frigorifico. Detesto o teu olhar quando te vens, ficas frágil e eu insegura, penso sempre que me detestaste. Na rua há luz e eu corro para casa antes que anoiteça de vez. Não quero perder o resto do dia sem passar numa loja para apanhar uma ou outra revista. Tenho gente à minha espera.

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

eu tenho um severo problema com amores secretos. acabo sempre metida em sarihos porque as aventuras fantasticas que vivo em camas erradas sao boas demais para fcarem caladas para sempre.

1:20 AM  
Anonymous Anonymous said...

se tu o dizes

11:21 AM  
Blogger Tovarich Ivanovitch said...

Blog deveras interessante e bastante sugestivo...
esta especialmente (ainda não li todas) é bastante libidinosa sem ser mt explicita, tenho de confessar que deu-me uma erecção absurda.
Gosto imenso da tua maneira de escrever, curto e seco, sem mtos rodeios e floreados tolos, mas com uma perspectiva bastante feminina.
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estorias cumplices de desejar por mais!
http://mesa-para-dois-se-faz-favor.blogspot.com/

11:12 AM  

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