Wednesday, November 22, 2006



10. Crónica

Nunca gostei da minha vagina.

Cresci com ela entre as pernas e cedo descobri o prazer. Recordo um dia roubar um penso higiénico do armário da minha mãe, colocá-lo dentro das cuecas e descobrir a quente alegria que aquele volume me dava.
Recordo também, bem mais tarde, ler sobre o clitóris e a sua localização. E como essa descoberta me deu o orgasmo mais rápido e surpreendido de todo o sempre.

Apesar das alegrias da minha vagina, sempre a achei feia. É verdade que nunca a vi muito bem – e isto apesar dos espelhos, candeeiros direccionados e remoção de pêlos a que me submeti, para tentar vê-la melhor.


Também nunca gostei das minhas mamas. Todas as minhas amigas as tinham maiores, e isso parecia ser então valorizado. Não ancas, coxas, nádegas, mas mamas, espécie de Barbies de glândulas generosas.

Mas sempre gostei dos meus seios. Seios é aquilo que tenho sem interferências externas, sem ter de agradar, fora do olhar reprovador ou desejante dos demais. Seios é a minha pele macia que gosto de tocar e que com isso se arrepia, resposta com tacto a um pulso conhecido. Seios é dos dias felizes da aceitação, do seu volume na minha palma ou enquadrados dentro de um soutien reconfortante. Mamas é a vulgaridade não correspondida das imagens para homens, que na sua perfeição inatingível nos enche de defeitos.

Com as mamas e os seios lá me fui safando. Mas com a vagina, essa flor mitificada e escondida, não.

Nas revistas não há vaginas.
Dos quiosques de rua saltam mamas, mas nunca vaginas. Pernas, entreabertas ou fechadas, rabos, coxas – vaginas, não.
Sei de cor como são pilas mas não vaginas. Duvido que a maioria das pessoas saiba o que uma vagina é, ou como funciona.


Descobri a minha outra vagina por volta dos 15 anos.
M. também tinha uma vagina, e também não sabia muito bem como era. Eu já não tinha idade para brincar aos médicos, mas queria brincar aos médicos com M.; queria muito que M. visse a minha vagina, queria ver a vagina de M., e queria ver a minha vagina pelos olhos de M.

Sabia que M. tinha já bastante esperiência em vaginas alheias, e a sua experiência encorajava-me e repugnava-me. Queria que a minha vagina fosse a única de M., que tivesse um carácter distintivo e único na sua memória; que cada vez que M. pensasse abstractamente numa vagina, que logo a minha lhe viesse ao pensamento, e que quando tocasse na sua vagina, logo fosse como na minha. Era um desejo possessivo, mesmo que mais tarde mudasse de ideias. Mas os desejos não têm futuro, apenas aquecem no presente, e no presente eu apenas queria possuir M.
Ao mesmo tempo, receava que M. não gostasse da minha vagina. Que a achasse feia, pouco flor.

Não sei se realmente pensei em tudo isto na altura, ou se apenas agora lanço um olhar reflexivo à memória da minha vagina pré-M. Apenas posso assegurar o seguinte, que se passou então-


M. foi numa noite fria levar-me a casa. Eu ia contente, com a minha vagina entre as pernas, sem pensar sequer se ela era bonita, ou feia. Ela estava ali, e eu estava feliz. Tão feliz que ia sentada no carro, com as pernas sobre as minhas coxas, a mão esquerda que me subia um pouco e para dentro, numa felicidade socialmente controlada e mentalmente desvairada.
Quando chegámos, M. parou o carro. Apagou as luzes e durante breves momentos senti toda aquela escuridão à minha volta como um impulso interno sexual e inultrapassável.
M. tinha um olhar de desejo crónico, mas sei que não mexeria um dedo sem o meu encorajamento, pelo que lhe peguei na mão e a coloquei acima do meu joelho, por baixo da saia.
M. tinha umas mãos bonitas e quentes, algo andrógenas, e excepcionalmente convidativas. M. e a sua mão brincaram no meu joelho por algum tempo, logo subindo devagar pela coxa num suspiro, e voltando a descer para sairem da saia e viajarem pelo meu corpo por cima da roupa.
A mão de M. tinha a pressão certa e movia-se de acordo com o que eu sentia, respostas cada vez mais excitantes aos meus impulsos eléctricos húmidos. A mão de M. voltou a descer e entrou-me dentro da roupa, remexeu nas minhas cuecas pululantes e desceu-as devagarinho enquanto me acariciava as nádegas.
A novo suspiro meu, a mão de M. passou a ser acompanhada por toda a sua cabeça, com aquele cabelo algo angelical e lóbulos das orelhas carnudos e apetecíveis.
Naquela noite, M. olhou frente a frente a minha vagina e gostou do que viu. Murmurou-lhe num beijo que ela era linda, e em todos os beijos que se seguiram provou-lhe o quando realmente ela lhe agradava.
Às vezes eu olhava para M. e via apenas os seus olhos sequiosos de desejo e a sua boca carnuda a lamber-me os lábios e as coxas, mas a verdade é que fechei os olhos durante a maior parte do tempo, para ninguém me ver for a do carro.
M. tocou-me olhou-me e massajou-me durante algum tempo, e nos intervalos calmos aproveitou para me viajar por todo o lado. M. gostava de me dar prazer, e o prazer que me deu foi talvez o primeiro passo para o meu bom entendimento com a minha querida e preciosa vagina.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tenho a certeza que a tua vagina é linda!

2:31 AM  

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