Thursday, November 16, 2006


9. Crónica

Por aqui vivem-se bons e maus momentos. Não gosto muito da cidade é muito barulhenta, suja e negra. Também pode ser do tempo, é Inverno e chove imenso. Tenho pensado muito no que nos aconteceu. Não te posso perdoar. Com a intensidade que eu vivo, ou pretendo viver, nunca podia pôr para trás das costa o facto de me teres atirado daquele penhasco. Eu compreendi tudo, fazia parte da nossa brincadeira, do nosso segredo, de certeza que tinhas combinado com alguém passar por ali para me apanhar logo de manhã cedo antes que sufocasse com o os pulmões entalados entre o volante e o banco que se tinha precipitado para a frente ou que alguma coisa, cá dentro, rebentasse e eu morresse num banho de sangue. Mas, ouve, arrastei-me para um canto e pedi ajuda, não tive vontade de te ver depois do que aconteceu. Desejei mesmo ter morrido porque sabia que te alegrarias mais se me visses ali estendida inconsciente, nem que fosse por uns segundos. Acho que até hoje nunca suspeitaste que eu te tinha visto. Eu vi-te. Estavas em casa, deitaste os teus filhos e foste para a sala ler um livro.

Vou-te contar a minha versão. Duas semanas antes estava eu em minha casa, no meu quarto, deitada completamente desprevenida. O meu quarto estava muito iluminado, deixei a persiana levantada para ver os primeiros raios de luz. Tu já estavas lá dentro do quarto e eu não senti a tua presença, nem que de repente te metias dentro da minha cama. Quando abri os olhos e te vi, saiste. Durante esse dia não pensei mais no assunto.

Um dia depois, por volta das seis, logo a seguir à recolha dos miúdos dos colégio, estacionei o carro num beco à porta de casa. Mal tirei a chave dei conta de ti através do espelho. Estiveste lá o tempo todo. Desta vez, sem pensar muito saltei para o banco de trás. Tinha imaginado cenas destas no meu dia-a-dia, exactamente iguais. Agarrei nas tuas cuecas e puxei-as com força, agarrei no teu rabo e puxei-o para mim, para o meu centro até encostar e perfeitamente articular uma bacia com a outra. Só tirei as calças de ganga até meio, ainda por cima dos joelhos. Gosto da ganga suja e que se aguenta dura mesma depois usada durante semanas a fio. Ali, sofregamente, devorei-te inconsciente de quem passava na rua. Dependia disso eu voltar a acordar no dia a seguir. Nos dias que se seguiram não pensei mais no assunto. Esqueci-me.

Três dias mais tarde (embora esquecida sou precisa nos intervalos, faz parte da minha personalidade) em eu que tinha vestido uma saia mais curta que o habitual entrei no edificio da seguradora onde trabalhava uma colega. Desci as escadas sem reparar na transparência dos degraus. Subitamente, da penumbra, apareceste no último andar mais baixo. Existiam espelhos por todo o lado e era impossivel esconder-me. Escolhi expor-me e sentei-me num dos degraus levantando a saia. Fingi apertar os cordões. Arrastei-me por uma série de degraus com subtileza à medida que retirava tudo que ocultá-se os meus dois orificios. Ainda demorei o bastante para te excitar. Quando cheguei a ti meteste-me no elevador e sem demora me penetraste de modo a eu perder a noção dos meus limites. Saimos e eu estava corada, tive a coragem de dizer ao vigilante que tinha que ligar o ar condicionado ainda com partes do meu corpo a descoberto. Corri para casa para um banho merecido antes que alguém notasse nos odores que a minha roupa e corpo traziam.

Perto do fim de semana, à noite, saí para comprar cigarros, corri até ao fim da rua para voltar de seguida. À volta cruzei-me com um rapaz muito novo, menor, que me travou o andar e me pegou na mão. Levou-me para o outro lado da rua e fez-me entrar num carro. Encontrei-te ao volante e levaste-nos para um sítio onde nem o silêncio se ouve. A vegetação era densa e magoava-me em contacto com a pele, mas não me importei, estive contigo, estive com ele, estive com os dois, estivemos até pararmos exaustos e quentes. Ficamos até arrefecermos. Tu levantaste-me e amarraste-me a uma árvore com cordas fortes e espessas. Deixaste-me ali durante o tempo para te vires mais umas quantas vezes com a ajuda do jovem. Depois desapareceram os dois. E dei com o caminho e voltei para casa. Neste momento deixou de ser possivel esquecer-te. Lembrei-me que podias aparecer a qualquer instante de detrás de um sítio qualquer. No dia a seguir a pele dos meus punhos estava dorida, manchas roxas envolviam os meus pulsos, doia-me o corpo tambem e estava constipada.

A penúltima vez, apareceste num concerto (sim, era óbvio que eu estaria lá) e perto do intervalo levaste-me lá fora junto aos taxis. Quem nos viu pensou que eramos duas pessoas a fumar um cigarro na pausa para a segunda dose de um bom espectáculo. Certamente que foi essa a ideia mas depois optamos pelo improviso e entramos num táxi vazio. Da praça de taxis os mais atrás estão vazios porque os respectivos condutores estão à frente a conversar com os outros condutores. Metemo-nos lá dentro e animadamente experimentamos a largura de um mercedes branco. No momento que me pareceu mais arriscado tentei sair mas as portas estavam trancadas. Tu saíste antes de o condutor chegar. Saiste e deixaste-me para trás. Por sorte tambem eu consegui sair e segui-te. Entraste num camarim vazio, e eu entrei de seguida. Rejeitaste-me e puxaste-me para o balcão. Eu vi todas as cadeiras a dois andares de distancia. Nunca me passou pela cabeça perguntar porquê.

A última vez, eu vi-te porque te segui. Reparei na tua casa ao passar na rua. As nossas casas eram vizinhas, foi por isso tão fácil me seguires. Eu nem sequer tinha dado conta da existência da tua casa. De fora observei-te a deitar as crianças e a ir até à sala e beijares o teu marido. Eu vi-te. Não é justo. Não é nada justo. A tua vida é monótona.

Saí em lágrimas, doia-me o coração e estava confusa. Sentia-me sozinha por pensar que os nossos momentos já se tinham extinguido. Mas não, nessa mesma noite, passaste no meu jardim, chamaste-me para descer, saímos no teu carro e corremos para um precipício. Ali, mesmo no limite…

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

haaa....afinal era uma mulher!

1:01 PM  

Post a Comment

<< Home

Free Web Site Counter
Web Site Counter