Thursday, November 23, 2006


11. Crónica

Faz em Dezembro quatro anos que fui a Marrocos.
Éramos um pequeno grupo de pessoas a viajar de carro e que se dirigia a sul com urgência de exotismo e lentidão na viagem.
Demorámos mais de uma semana até chegarmos a Gibraltar, e a partir daí ainda com mais vagar fomos ficando perdidos na paisagem.
Ao fim de alguns dias de cidade em cidade conhecemos um guia que nos propôs viajarmos até ao deserto.
Ahmad é dos homens mais bonitos que alguma vez conheci - com os seus olhos intensos e transparentes e a pele curtida pelo sol. Uma espécie de Corto Maltese versão sahariana, a emanar sexualidade e ambiguidade por todos os poros.

No dia seguinte partimos para o deserto como num road movie. Durante todo o caminho observei Ahmad pelo canto do olho – o suor cristalizado nos pêlos da barba, ou deslizando antes pela fronte. As mãos ásperas e quentes de areia. A forma peculiar como o fumo do cigarro lhe deslizava subreptilmente por entre os lábios. Ahmad intimidava-me mas atraía-me, e eu passei toda a viagem a tentar disfarçar essa tensão.

Chegámos ao deserto ao início da noite. Uma fogueira atiçou as conversas pela noite fora. Pelos acasos que se constroem, fiquei ao lado de Ahmad. Cada vez mais perto e numa intimidade crescente, o seu toque quase neutro desliza no meu braço, para pouco depois estarmos tão próximos que a temperatura do seu peito parece mais alta que o fogo de defronte.
Ahmad continua fumando, e com toda a calma do mundo vai lançando olhares inquietantes a uma das raparigas que está do outro lado da fogueira, que por sua vez me devolve esse olhar de desejo e que inicia uma troca geral de olhares lânguidos, bêbados da sexualidade crescente provocada pelo exotismo e pela diferença.

Debaixo das mantas eu e o meu companheiro de proximidade tocamos-nos nas pernas. Sinto as coxas firmes de Ahmad, adivinho-lhe a linha de pêlos do baixo ventre apertados entre as dobras das calças. Tocamos- nos durante largo tempo entre avanços e recuos que nos trepam o ritmo cardíaco até nos sentirmos com incontroláveis tremores.

Botões deslizam em ambos os lados enquanto eu já respiro o ar da sua boca e engulo a sua saliva. Ahmad cheira a homem sem artifícios e a chá de menta com molho de tâmaras, a suor selvagem com um toque feminino e ousado, que me atrai como nunca nenhum outro.
A excitação cresce a olhos vistos, entre nós e os nossos companheiros de viagem. Debaixo dos cobertores sinto não duas, mas várias mãos que me apalpam por todos os lados, homens e mulheres dedicados ao prazer em suores que escorregam entre as carnes. Há uma mão que entra pela parte de trás das minhas calças, outra pelo meu pé, outra ainda por dentro das minhas camisolas, uma boca na minha orelha e outra a lamber-me os dentes. Continuo com a minha mão em Ahmad, não o largo, ele geme e puxa-me mais para junto de si.

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