Thursday, March 01, 2007


24. Crónica

Queria acordar-te. Estavas de costas para mim e eu passei a mão pelas tuas costas, pelo teu peito tão familiar e como se do meu se tratasse.
Peguei numa caneta e fiz-te uma tatuagem enquanto ainda dormias. Cobri as costas com o desenho grande de uma cobra que se enrolava em si própria. Beijava o teu pescoço enquanto construía um mundo de símbolos que decoravam a cobra e assim construi uma fantasia nas tuas costas. Transformava-te num homem tatuado, marinheiro talvez.
Como não acordaste, passei a desenhar também o braço e outras partes do corpo, onde podia e sem te acordar. Demorei horas na descoberta dos detalhes ainda desconhecidos de um corpo tão familiar. Cobri-o aos poucos com tinta preta e depois com pormenores a tinta dourada.
Acordavas, levemente, de vez em quando e voltavas a adormecer.
Apeteceu-me trazer mais coisas para esta festa que fazia contigo ausente. Fui buscar um diluo cor-de-rosa. Passeio entre as tuas pernas entreabertas. Devagarinho e untado com azeite.
Finalmente acordaste, mas nada mexeu em ti. Só um gemido de vez em quando e uma expressão que parecia um sorriso.
Comi o teu pescoço e os ombros. Digo comi porque literalmente trinquei e puxei com os dentes, cada vez com mais forca, enquanto olhava as tuas novas tatuagens e continuava as carícias entre as pernas com o diluo cor-de-rosa. Penetrou-te um sexo que não era de ambos. Mas que nos dava prazer. Com as mãos tocamos o sexo do outro muito devagar. Sem palavra. Tu não eras tu mas um ser tatuado que existia para este momento. Eu não era eu. Viemo-nos nesta posição bastante estranha e assim acabamos por adormecer os dois.
Quando acordaste olhaste o teu corpo no espelho e sorriste. Achaste-te bem, decorado com desenhos, com ar Durão e machão.

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