Sunday, January 14, 2007


18. Crónica

Humor bastardo este que me provoca tantos problemas pela manhã...Não é esta a primeira vez que planeio fazer algo diferente pela manhã, como ficar ali mergulhada na ressaca da noite que ainda dura, apenas interrompida por uns raros minutos de sonolência e divagação visual por todas as imagens que nos mirram o olhar ao longo da noite. E deste estado partir de olhos semi-cerrados em busca do teu corpo, dos teus cabelos, cego, prefiro de todas esta cegueira, a matinal, a que me pertence de uma forma maquinal e automática.

A estas horas os movimentos corporais que te quero transmitir são mais dispersos, fluem de outra forma, como se o racional que há em mim desaparecesse por completo e só o possível movimento de encaixe me dirigisse em ti, vagueando em ti, aproveitando o atrito bom que a minha pele provoca na tua, e que a tua pele parece reconhecer na minha. Enfio os dedos no teu cabelo, toco-te com intenção pela primeira vez esta manhã, e são os teus cabelos e o volume que ostentam onde perco mais tempo em ti, às vezes na rua perco horas neles, esqueço-me de estar, de fazer, de pensar em fazer, e sou transportado para ti através do toque. São, e sei que me achas estranha por isto, um orgão extremamente sexual meu mas no teu corpo.

Estou neste impasse mais uma vez, quero que me possuas, que me permitas possuir-te agora, antes de te levantares para as torradas e o horrível odor que libertam quando são tostadas naquela torradeira velha que tens, mas tenho receio, medo que as definições que tens para mim se imponham mais uma vez e seja o fim desta manhã, e pelo menos ainda estás deitado.

Achas, e sei que sim, que sou mal humorada pela manhã, e de facto tens razão, não gosto que me dirijas a palavra de manhã, que olhes demasiado para o meu corpo, não gosto mesmo nada de tomar banho contigo, de te cheirar e às tuas torradas, não gosto das pessoas na cidade, mas gosto da cidade, da cúpula matinal, dos automatismos de todas as peles. E hoje vou enquanto te afagar os cabelos, puxar-tos com força, enfiar-te a cabeça na almofada sufocando-te até que peças para parar.

Ponho-me nas tuas costas nuas, no teu corpo que já se encontra nu e vou fazer com que me desejes enquanto sentires a minha vagina nas tuas costas, nas tuas nádegas, e os meus seios nos teus braços, na tua nuca.

Quero magoar-te a sério, quero que berres, supliques para parar... mas hoje não vou mesmo parar.

Vais virar-te de frente para mim, porque te vou deixar fazê-lo, e vais sentir-te erecto, vais sentir-te ainda mais quando te espetar as unhas que previamente moldei para esse efeito, no peito e um rasgo de sangue te surgir de leve.

Confuso, num misto de prazer e dor vais ficar ali, como tantas vezes ficas, boquiaberto, sem reacção. Mas eu vou continuar, vou pegar-te e enfiar-te em mim, com cuidado, lentamente, para que sintas o conforto de cada centímetro que percorreres em mim...

Vou continuar assim até ouvir lá fora as sete badaladas do relógio na igreja, e depois as outras sete da igreja ao lado dessa.

Provocada por esse som, esse controlo estúpido que se intromete entre nós de cada vez que acordamos na mesma cama, escorrego com brutalidade por ti, mexo-me com a violência que nunca conheces-te em mim, vais querer que pare...

Vou vir-me as vezes que me apeteça, as vezes que hoje particularmente me apetece, e tu exausto vais conhecer todos os limites em ti.

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