Saturday, February 03, 2007



21. Crónica

Costumo me masturbar algumas vezes, por semana, por dia, depende. Enfim, tenho na memória algumas cenas deste acto relatado em livros, por exemplo em Justine, de Lawrence Durrell, não a de Sade. A mulher que falo vivia em Alexandria, aquela cidade egípcia da qual se reconhece o incêndio de uma das maiores bibliotecas da humanidade. A cidade é fogo. Ela tinha um ar de auto-suficiência, era bela, vestia branco e chapéu. Todos os dias de manhã, sobre o sol que entrava pela persiana, aquele sol já morno que ameaça a noite, masturbava-se. Na cama, deixava o lençol e as almofadas serem seus cúmplices. Dava-lhes um jeito de forma anatómica para se entrelaçarem nas pernas, nas virilhas, e bicudos tocassem no clítoris. Era uma mulher sedutora, mas reservada, solitária e casada com um qualquer milionário.

Não sou se quer próxima dessa mulher. Não me masturbo de manhã, podia nomear uma preferência no dia, ao fim da tarde. É quando a luz começa a cair que o meu corpo me lembra que existe. Sinto a barriga quente, com uma breve sensação de prazer, e começo a pensar, muito intuitivamente e dependendo de onde estiver, como me vou saciar. Procuro sempre alguma coisa na qual me possa deitar. Tenho que abrir as pernas para que toque na minha vagina. Confortável para conseguir atender a tudo que vem à cabeça. Os sofás são bons. Os cantos das camas. As almofadas. Não gosto de me tocar a mim própria, não retiro prazer disso. Gosto que alguma coisa me toque enquanto movimento o corpo. Na falta destes objectos, arranjo sempre maneira de substituir por outros: uma pilha de livros, um balcão, etc. Para mim a masturbação é um acto de concentração. Encosto a minha vagina despida, ou não, sinto o ar a passar e começo a imaginar coisas enquanto a esfrego pelos objectos. E isso sim excita-me muito.

Imagino que por trás está outra mulher a lamber-me, e que atrás dela está outra a fazer-lhe o mesmo. Quase que sinto a saliva fresca que sobra para o rabo. Quase que as ouço a ter prazer. Já imaginei, noutra sessão, um homem a penetrar-me ao mesmo tempo que me masturbava. Mas com ele estavam muitos mais à espera da sua vez. Muito excitados serviam-se da minha coninha assim: todos molhados muito rapidamente enfiavam os seus pénis à vez na maior altura da tesão, sem se chegarem a vir. Nunca atribuí caras a estas pessoas, não tem a ver com um desejo pessoal por alguém. É puro sexo e corpo. Somente uma vez, numa altura de vida adolescente, imaginava sempre, enquanto me satisfazia, que lambia a vagina bem aberta de uma amiga. E lambia, lambia, repetia na minha cabeça: deixa-me lamber-te. A saliva crescia na boca. É curioso pensar que quando a encontrava, fosse na noite ou no café, não sentia este tipo de desejo. Mas quando me embebedava era difícil de resistir. Acabei sempre por resistir e ficar com o meu plaisir secrète.

1 Comments:

Blogger lunar said...

eu também não vejo rostos.

6:42 PM  

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